A História do Queijo Artesanal de Alagoa

 APRESENTAÇÃO
Marcada pela sinuosidade de seu relevo e pelo clima ameno, a região de Alagoa, na Serra da Mantiqueira, possui uma grande diversidade produtiva, marcada principalmente pelo predomínio de agricultura familiar, vocação pela pecuária leiteira e elaboração de queijo artesanal.
Vários são os registros históricos da presença da produção queijeira na região, tradição esta que tem se mantido de forma artesanal, apesar da pressão exercida pela tecnificação dos laticínios. Trata-se de uma atividade que pertence ao “saber fazer” das famílias.
O presente estudo mostra que o processo artesanal de fabricação do Queijo Artesanal da Alagoa é de grande importância socioeconômica para a agricultura familiar, gerando ocupação e renda, além de permitir a fixação das famílias no campo.
Ao se fazer a delimitação do microrregião produtora deste queijo artesanal, descrever as características dos municípios que a compõem, levantar os dados históricos que formaram sua cultura, faz-se também o resgate da autoestima dos produtores, possibilitando assim a manutenção dessa importante atividade.
 
ASPECTOS HISTÓRICOS E CULTURAIS
A região da Serra da Mantiqueira se tornou conhecida Minas Gerais por suas características ambientais, onde se destaca o relevo repleto de montranhas, o clima frio e a riqueza hidrica. Em meados de 1920, essas características atrairam a atenção do italiano Pascoal Poppa, que com sua esposa Luiza Altomare Poppa, migraram do Rio de Janeiro para Alagoa vislumbrando a possibilidade de se produzir uma iguaria típica de sua cidade natal, Parma: o queijo Parmesão.
Segundo relato de antigos moradores da região, Pascoal Poppa construiu três laticínios no município, um no distrito sede (foto 2),um numa propriedade adquirida em Boa Vista, em sociedade com João Luis da Fonseca, e um terceiro, o Laticínio “Ednéia”, nome dado em homenagem a sua filha.
Foto 1: Paisagem do município de Alagoa
 
Inicia-se assim, o processo de captação de leite e produção do Queijo Parmesão em Alagoa. Conforme informações colhidas, as formas utilizadas na época eram de madeira e o queijo era prensado com o auxílio de pano. Após, a prensagem era feita de forma rudimentar com o auxílio de pedras. 
Aos poucos, o queijo produzido em Alagoa ganhou mercado e despertou interesse do Coronel Porfírio Mendes Pinto, um abastado pecuarista da região, que até então produzia em sua propriedade o “queijo minas”. Apesar da vontade em empreender o ofício de queijeiro, o Coronel Porfírio não tinha o conhecimento necessário, ou seja, não dominava a tecnologia de fabricação do queijo Parmesão. Através da indicação do Pascoal Poppa, Coronel Porfírio traz de São Luiz do Paraitinga (município do de São Paulo) um jovem queijeiro, Gumercindo Ferreira Pinto, para iniciá-lo na arte da fabricação do queijo Parmesão. Gumercindo se estabelece em Alagoa, e algum tempo depois se casa com a filha do Coronel Porfírio, Maria da Glória Pinto.
Ao que tudo indica, Gumercindo se torna o “braço direito” do sogro, que tem seu patrimônio ampliado através da comercialização desse novo produto.
 
Foto 2:À esquerda João Luis da Fonseca e à direita, Pascoal Poppa em fotografia tirada em 20/05/1932 no município de Itanhandú.
 
Em 1930, Gumercindo e sua esposa, Maria da Gloria Pinto são presenteados pelo sogro com a Fazenda Entre Morros, onde estabelece um novo laticínio. Na mesma época o laticínio Boa Vista é vendido para José Romanelli, que amplia sua captação atravé da implantação de um laticínio em Itamonte.
A atividade começou a se tornar rentável na região, e novos empreendimentos começaram a ser constituídos. Na comunidade de Rio Acima, João Mendes é o pioneiro. No Moinho, em meados de 1930, Inácio Mendes Siqueira, constrói sua fabrica, e assim, num curto espaço de tempo, a tecnologia se espalhou por Alagoa e cidades vizinhas.
Os anos se passam e as famílias incorporam a tradição na fabricação do queijo Parmesão, que começa a assumir características locais. José Ernesto, netodo Coronel Gumercindo, estabelece o laticínio Itanhandu, no município de Alagoa, Ney Romanelli assume o empreendimento de José Romanelli, em Itamonte e assim, a segunda geração de queijeiros se estabelece na região.
Em meados da década de 30, Pascoal Poppa rompe a sociedade com João Luiz da Fonseca, que constrói um novo laticínio no perímetro urbano de Alagoa, agora em sociedade com José Rafael, pouco tempo depois, o italiano se muda para Itanhandú.
Segundo relatos, Gumercindo ainda teria montado um laticínio na sede do município, no início da decada de 60, laticínio Rebolsas, que foi adquirido por Ademir Mendes de Andrade em 1993, renomeando-o de Laricínio “3R”em homenagem aos seus 3 filhos: Ricardo, Rafael e Rita.
O Laticinio Boa Vista, tido como marco inicial na produção do Queijo Artesanal da Alagoa, foi fechado em 1989, quando sua propriedade foi transferida de Ademir Mendes de Andrade para uma empresa multinacional. No decorrer dos anos, este empreendimento pertenceu à: Pascoal Poppa, José Romanelli, Nei Romanelli, Ercílio Mendes de Andrade (Sr. Cirico) e finalmente a Ademir Mendes de Andrade.
Fonte: CARACTERIZAÇÃO DA MICRORREGIÃO DE ALAGOA PARA PRODUÇÃO DE QUEIJO ARTESANAL -EMATER-MG